Guindaste Articulado – Trave x Canivete?

Guindaste Trave x Canivete

Quais as principais diferenças entre eles?

Qual ergue mais carga?

Por que no Brasil se prefere o modelo Trave e no resto do
mundo o Canivete? Para fazermos o comparativo entre os dois modelos e também
responder as perguntas acima, primeiramente precisamos desmistificar algo sobre
os guindastes articulados, que são alguns termos usados por alguns operadores
de forma equivocada. O primeiro ponto de pega em qualquer guindaste articulado
seja do modelo trave ou canivete é no gancho considerando todas as lanças
recolhidas, conforme ilustração abaixo e neste exemplo nós temos uma distância
do centro do giro até o gancho 3.850 mm.
Logicamente esta distância varia conforme cada modelo e fabricante,
mas, de modo geral, nenhum equipamento poderia movimentar uma carga antes de
seu 1° ponto de pega, ou seja, este é local onde todos os guindastes podem
levantar o maior peso, a partir daqui, quando abrir à lança a tendência é
diminuir a capacidade de carga. (Se tiver dúvida, veja nosso post “O que é
momento de carga
“). Ainda que o operador bascule a lança para baixo (figura
abaixo), com o intuito de diminuir a distância do gancho até o centro da coluna
do guindaste, com o objetivo de aumentar a capacidade, informamos que todos os
modelos já saem de fabrica com a informação em seus gráficos dos limites
máximos em cada ponto de pega, mesmo porque, ao fazer isso para erguer um peso
maior, ele terá que subir a lança novamente para movimentar a carga e desta
forma extrapolará os limites estipulados pelo fabricante, prejudicando a
estrutura do equipamento.
Com base a esta informação, queremos ilustrar que nenhum
guindaste movimenta carga no “pé”, na verdade, “pegar no pé” é um termo usado
entre alguns operadores para classificar a capacidade do equipamento que também
não é correto. A melhor forma e a correta de se classificar um guindaste
articulado é pelo momento de carga, exemplo 20 tm, 30 tm ou 40 tm. Dê onde vem este velho hábito de se referir a estes
equipamentos informando que é um modelo que pega 10 ou 20 t no pé? Para responder a esta questão precisamos remeter aos
primeiros guindastes produzidos no Brasil. Um dos guindastes articulados produzidos pela antiga fabrica
Munck e também um dos mais populares foi o modelo 6.40/18, posteriormente
conhecido como guindaste garrafinha, um equipamento de 6 tm, com giro de 180°,
comando unilateral e que para estabilizar era necessário primeiro bascular
manualmente um apoio apelidado de “pata de elefante” ou “pé de elefante” e
depois apoiar o estabilizador sobre ele. Era um projeto antigo de modelo trave
que foi produzido por cerca de 30 anos.
Munck modelo 6-40/18

Este tipo de equipamento que para os dias atuais é um modelo de pequeno porte, mas para época foi algo revolucionário, tanto é que a marca virou sinônimo do produto. Os dispositivos de segurança como válvulas eram inexistentes, foi chamado posteriormente de guindaste burro, pois, o que você quisesse levantar o guindaste erguia, inclusive era capaz pela forma construtiva de movimentar uma carga a partir “do pé de elefante” ou “pé do estabilizador”, empenava-se o chassi do caminhão, quebrava o guindaste, estourava mangueira ou levantava a carga, tanto é que as válvulas eram opcionais nestes modelos. Muitos operadores seniores, com certeza operou ou aprendeu a operar nestes equipamentos.

A própria fabrica Munck na segunda metade dos anos 80 trouxe
para o Brasil uma linha de guindastes canivetes, mas tiveram dificuldade, pois
a nova linha era equipada com dispositivos e válvulas de segurança que bloqueava
a operação no caso de uma sobrecarga no sistema hidráulico. A cultura de utilizar equipamentos sem dispositivos de
segurança ficou enraizado e com o tempo outra marcas surgiram com o
encerramento da fabrica Munck e também comercializavam as válvulas como
opcionais. Nos anos 90 alguns fabricantes aventuraram a lançar seus produtos com
o modelo canivete, mas o mercado fazia alusão de que este modelo era sinônimo
de equipamento fraco, fora do Brasil o mundo já tinha abolido o modelo trave e
até hoje comercializam somente o canivete. Nos dias atuais as válvulas de segurança são standard nos
equipamentos tanto na linha trave como canivete, válvula de retenção nos
cilindros que bloqueia o óleo no caso de rompimento de mangueira, entre outras,
enquanto no mundo utilizam válvula de momento de carga, sistema eletrônico que
bloqueia o equipamento caso o operador exceda o gráfico de carga. Esclarecidos estes pontos, vamos agora responder as
perguntas feita inicialmente. Quais as principais
diferenças entre eles (Canivete x Trave)?

Existem muitas diferenças entre eles, a começar pela forma geométrica.

Guindaste Articulado – Trave

O sistema trave não permite que o equipamento possua muitas lanças, em função da disposição das lanças se posicionarem para baixo, ou seja, quanto mais lanças, mais próximo do chão.

Outra desvantagem do sistema trave é a distribuição do peso
sobre o chassi, o lado das lanças tende a ficar mais pesado que o lado da
coluna, sendo necessário reforçar um lado da suspensão para compensar esta
diferença. Para usar um acessório chamado fly jib na linha trave, o
equipamento deverá ficar aberto sobre a carroceria, pois não é possível apoia-lo
sobre o berço ao contrário dos canivetes.
Quais as principais diferenças entre eles?
Qual ergue mais carga?
Por que no Brasil se prefere o modelo Trave e no resto do mundo o Canivete?
Guindaste Articulado – Canivete

A geometria do sistema canivete possibilita o uso de mais lanças, inclusive o uso do fly jib, então, se você precisa de alcance vertical a melhor opção é este sistema.

A distribuição de peso não é prejudicada neste modelo, pois
a coluna fica centralizada no meio do chassi, distribuindo o peso de forma mais
uniforme. Qual ergue mais
carga?
A capacidade de carga do equipamento está relacionada com o
tipo de material que é usado em sua construção. Vamos utilizar um exemplo para
elucidar! Consideremos dois caminhões de 23 t de PBT de marcas
diferentes e neste exemplo usaremos a marca “A” e marca “B”. A marca “A” tem um peso em ordem de marcha de 7 t e o “B” de
8 t, portanto, a capacidade de carga líquida ou lotação dos caminhões será:

“A”       23 – 7 = 16 t

“B”       23 – 8 = 15 t

Ou seja, quanto mais leve o peso do caminhão (tara), maior
será a capacidade de carga que poderei transportar, desta mesma forma é com o
guindaste, quanto mais leve for o equipamento mais peso poderei levantar, uma
vez que meu limite é o momento de carga. Os fabricantes internacionais e alguns nacionais já utilizam
aço estrutural na produção de seus equipamentos, estamos falando de material de
alto limite de escoamento que confere maior leveza e alta resistência mecânica,
são aços de 700, 900 e 1.100 Mpa, tudo para aumentar a capacidade do guindaste
com o menor peso (tara) possível, para terem uma ideia, eles dão garantia de 2
ou 3 anos na parte estrutural para trincas ou quebras, logicamente, os
equipamentos são dotados de válvulas, sensores e dispositivos de segurança que
inibem uma operação inadequada. No Brasil alguns fabricantes já migraram para o aço
estrutural de 700 ou 900 Mpa, uma parte ainda utiliza o material de 350 Mpa, o
mesmo utilizado pela antiga marca que encerrou suas atividades há quase 30
anos. Portanto a questão de quem levanta mais ou menos carga, está
relacionado ao fator “peso x potência”, ou seja, independente do modelo trave
ou canivete de mesmo momento de carga o que levantará mais carga é o mais leve
e isso varia de marca para marca. Por que no Brasil se
prefere o modelo Trave e no resto do mundo o Canivete?
Uma das explicações é dessa cultura herdada de que um guindaste
não precisa ter os dispositivos de segurança que protege o equipamento o operador
e a operação, pois, segundo alguns operadores estes acessórios atrapalham o
serviço, mas na verdade ele quer dizer que estes itens não permitirão que ele faça
manobras indevidas e que por algumas vezes, pode ser até necessário manobrar o
caminhão para reposicionar e movimentar a carga e isso gera mais trabalho para
ele. Enquanto fora do Brasil os operadores para movimentar uma
carga de 5 t, utilizam um equipamento de maior porte para ter uma margem de
segurança, aqui se trabalha muitas vezes além do limite de carga do guindaste. A maioria dos guindastes canivetes que circulam no país, são
importados ou a fábrica estrangeira está instalada e montando aqui no mesmo
padrão de qualidade exigido pela matriz, ainda são poucos fabricantes nacionais
que produz a linha canivete e mesmo que faça, é no mesmo conceito anterior. A outra explicação e a mais contundente é o preço de venda,
um guindaste canivete é mais caro que o sistema trave, em função do material
estrutural que é importado, dos custos dos dispositivos de segurança aplicado e
principalmente a baixa demanda de venda que encarece a produção.



7 comentários

Rafa ferreira fevereiro 26, 2020

Ok. Artigo bem interessante, com muita informação produtiva. Parabéns.

    Hidratec março 27, 2020

    Obrigado.

Carlos alberto de carvalho. julho 19, 2020

bom dia amigo foi show a tual explicacao sobre as diferencas dos dois modelos de equipamentos. sou hobista em metal mecanica e entendo claramente a tua explicacao sobre tara e resitencia de materias aplicado na construcao. infelismente somos resistente a mundancas de tecnologias o que nao acontece nos paise de primeiro mundo. mas o grau de conhecimento dos operadores e o que faz isso perdurar a ignorancia sobre o assunto.

    Hidratec janeiro 19, 2022

    Obrigado.

Bruno César fevereiro 26, 2021

Muito boa explicação, operei um guindauto modelo canivete algumas vezes, pra mim um operdador habituado a trabalho com um argos trave 43, foi um pouco estranho lidar com a trava de segurança. Ja conclui muito trabalho no limite do equipamente, obviamente n é o mais sensato a se fazer.

    Hidratec janeiro 19, 2022

    Obrigado pela contribuição.

Adilson Teodoro maio 18, 2022

Muito esclarecedor, sobretudo para mim que estou às voltas com a compra de um desses equipamentos e não sei absolutamente nada sobre o tema. Já recebi de vocês uma série de catálogos e estou avaliando para aquisição. A dúvida entre os dois modelos foi sanada até certo ponto, agora é convencer os engenheiros. Agradeço pelos esclarecimentos